quarta-feira, maio 17, 2006

"Electrólise"

Quem é Paulo Portas? O grande alquimista da direita portuguesa, que esvaziou de tal forma o CDS-PP que sobrou apenas a ideia “o partido sou eu”.

Perdoem-me os militantes centristas por meter a colher. Mas quando marido e mulher se desentendem gravemente, o caminho civilizado a tomar é o divórcio. De pouco vale vender a cacofonia a que se tem assistido no CDS-PP por polifonia harmoniosa. A pluralidade é como um guarda-chuva: havendo cabeças a mais, alguma se molhará. O problema do partido não é a falta de identidade, mas de percepção de qualquer uma que ela seja. Em política, conta o que “parece”, não o que “é”. Melhor: conta o que parece, daquilo que “aparece”. O mais, de pouco vale. E consensos sobre o aborto ou o papel dos grandes empresários não chegam para fazer um partido.

As diferenças entre a ala democrata-cristã e a ala liberal não se esgotam no conteúdo. Envolvem – não tinha de ser assim, mas é – duas formas distintas de estar na política: uma mais institucional, outra mais populista. A clivagem de personalidades tem sido uma corrida para o abismo, com inevitáveis tiradas humorísticas, como a interpretação de “lealdade”. Maria José Nogueira Pinto, comentando a moção neo-liberal de João Almeida, afirmou que “o que (se) disse aqui é tudo relativo a um partido de que eu não poderia fazer parte”. A revelação clara desta clivagem, sem mais consequências, encerra, no mínimo, alguma falta de prudência.

Quem ganha com a actual situação, naturalmente, é Paulo Portas. O grande alquimista da direita portuguesa, que esvaziou de tal forma o CDS-PP que sobrou apenas a ideia “o partido sou eu”, não conseguiu tudo aquilo com que sonhava, mas alcançou tanto quanto poderia. Não chegou ao ouro, mas saboreou a prata: ser ministro de Estado. Mais do que isso – ser Chefe de Governo ou da Nação- seria sempre impossível. Quanto à imortalidade, Portas ainda é novo. Sendo inteligente, dificilmente voltará a liderar este partido: isso revelaria fraqueza e falta de lucidez. E criar um partido novo? O momento não podia ser melhor. Serão a aura sebastianista, a vaidade de comentador e a adrenalina de ‘sniper’ suficientes para o satisfazer?

Não tomando qualquer decisão de ruptura, Portas jamais sairá a perder. Se a actual direcção se mantiver até 2009, a previsível instabilidade levará a um resultado desastroso – logo, bom para o líder antecedente. Se um dos seus delfins chegar às legislativas, um bom resultado será, em parte, mérito dele; um mau resultado será a prova do seu valor insubstituível. O tempo está do lado de Portas. A ruptura terá de vir de outro lado. Pires de Lima apelou a um partido mais “sexy”. Em parte, concordo. O CDS-PP deve aspirar a ser – passe a expressão - “um pedaço”. Mas não dois. O “composto” actual é demasiado turvo para apelar a quem quer que seja. A decomposição dos seus “elementos” é urgente. De onde virá a necessária “electricidade”? Essa é que é a questão.